sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Efeito Doppler






Após a minha caminhada vespertina, decidi descansar junto ao lago.
Pousei a mão sobre a relva meio húmida e sentei-me junto à árvore que conta mais histórias que os meus ou os teus olhos.
Pensava nos nossos dias mais cinzentos, enquanto balançava pedrinhas para junto das margens.

Decidi, naquele compasso de espera, que nada mais tinha que esperar.

Toquei na água, enquanto os peixes me observavam inquietos, julgando que estaria ali para os caçar, e lembrei-me de ti e de mim, correndo por entre a vegetação.
Gritos ecoavam na minha cabeça, mas senti que nada do que se teria passado havia sido real.
A dor que sentia não era suficiente para me atirar contra as pegadas que deixaste quando o sol se pôs.
Deixei de te ver.
A escuridão inundou por completo a floresta, no mesmo dia em que decidiste partir.
Persegui-te durante horas; Persegui o cheiro do teu perfume durante horas.
Persegui aquilo que achei que era o teu rasto durante horas.
Persegui nada mais do que uma ilusão.
Os meus braços tremiam; As minhas pernas tremiam. Esqueci-me do momento em que deixei de correr.
Levei as mãos à cabeça e numa última escapatória vi-te, finalmente, a desaparecer.
O rasto terminava junto à entrada da ponte de madeira.
A água já pouco se movimentava.
Decidi que era o momento de deixar partir a sombra que me escapava ao olhar.
Decidi que só permitiria que regressasses ao meu pensamento quando voltasse àquele lugar; Quando fitasse os peixes como eles te fizeram no dia em que o fundo preferiste.
Toquei-te, uma ultima vez.
Observei a água a acalmar-se e voltei costas ao caminho que desejava nunca antes ter conhecido.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Aroma: Pepino.




Confesso-te que gostava de entrar na tua cabeça.
Confesso-te que gostava de saber dizer-te tudo o que precisas de saber.
Confesso-te que gostava de conhecer todos os teus sentimentos.

...
Disse-me isto antes de te ter. Digo isto enquanto te tenho.
Vou continuar a dizer-me isto sabendo que não vou: poder entrar na tua cabeça; saber sempre o que dizer; saber preencher todas as tuas necessidades.

Sei dizer-te que vou ouvir. Sei dizer-te que vou fazer o meu melhor. Sei dizer-te que podes confiar em mim.
Sei dizer-te que gosto do que existe. Não sei dizer-te o que é.
Sei dizer-te que os caminhos vão ser construídos. Não sei dizer-te quais os cruzamentos que se vão criar.
Sei dizer-te que podemos viver um dia de cada vez. Não sei dizer-te quantos dias passaram.



Não vamos contar o tempo. 
Não vamos não viver.
Vamos sair da zona de conforto.
Vamos explorar a incerteza.


Vamos aprender mais. Vamos unir-nos.
Não sei onde vamos. Só sei que quero ir.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sorte.


Prometo que amanhã te escrevo.
Vou reflectir sobre todas as palavras que não te digo, vou compor as frases que até hoje pouco fizeram sentido.


 
Desejo que este momento em que te olho nos olhos e que te envolvo o cabelo entre os meus dedos nunca acabe. Que o desejo que nos aquece nos mantenha vivos. Que a saudade nos alimente. Que o amor persista. Que o desejo aumente. Que a saudade não aperte. Que o amor não se esconda. Que uma lista de coisas inumeráveis nos rodeie e não desapareça. Que tudo de bom aconteça. Que o meu sorriso te contagie. Que as tuas palavras me animem. Que os teus braços me envolvam. Que o teu corpo não se canse. Que a tua mente não se perca. Que os sentimentos não escasseiem. Que o barco não se afunde. Que o sol não se esconda. Que a lua não páre de brilhar. Que as flores não murchem. Que os rios não parem de correr. Que o amor aconteça. Que a minha vida sejas tu.


 
Que algo faça sentido. Que tudo faça sentido. Que nada faça sentido. Que o teu amor por mim não seja perdido.


 
Prometo que amanhã te escrevo tudo isto.
Prometo que te digo tudo isto ao ouvido se a tinta falhar, se o papel acabar; Se o meu coração não parar.


domingo, 25 de dezembro de 2011

Aroma: Pêssego

Nem todas as histórias começam com Era Uma Vez, mas esta pode começar assim, porque sou eu que a estou a escrever.
Todos os dias acordo com o desejo de te dizer mais do que aquilo que te posso dizer, mas as palavras escasseiam. Passeiam-se pela minha mente antes dos meus sonhos surgirem e escondem-se bem antes de eu ter capacidade para as dizer.
Eu só temo que a voz seja mais forte que os pensamentos. Que ignores a ânsia, por não estar escrita numa parede. Que não repares na saudade, porque estás demasiado ocupado a procurar por ela por entre os livros acumulados nos quais buscas as respostas para todas as questões que te colocas.
É por isso que gosto de olhar bem dentro dos teus olhos antes de adormecer, esperando que consigas ler em mim tudo aquilo que eu gostava de ter de ti.
E esta história não tem um final feliz. Não tem sequer um final. Quero exercitar a mente e escrevê-la e reescrevê-la durante muito tempo. Não me interessam os Era Uma Vez; apenas os Era Uma Vez Contigo, porque tu és o marcador da minha história e não posso nunca avançar se lá não estiveres.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Low Profile

Há dias, em que, por mais sono que tenhamos, não nos conseguimos deitar.
Serei só eu a achar que o mundo ao contrário tem mais piada?

Mas toda esta insónia não passa de desvelo.



É à noite, e tu sabes disso, a altura em que mais pensamentos nos ocorrem; e são viagens cansativas; e por mais que queiras dormir, existe sempre algo mais que não nos deixa.
Mas as viagens que eu mais gosto, são aquelas que partilho contigo. Porque ambos cabemos aqui.
Gostava que viesses sempre comigo, mas acabaríamos por termos os mesmos pensamentos e não te esqueças que é o mundo ao contrário que tem piada.
Recordo-me de passear por caves. Com pouca ou mesmo sem luz. Recordo-me vagamente, porque nunca tive iluminação suficiente. Mas agora consigo dizer-te as coisas que gosto. E eu consigo perceber as coisas que gostas; E foi essa harmonia que me fez deixar de passear por tais locais. É como um piano que não pára de tocar. São notas que soam dentro de nós e que finalmente tocam dentro do tempo certo. Será que ouvimos a mesma música? Será que te faz sentir tão bem como a mim?

...


Por agora o mundo continua a parecer bem, mesmo estando do avesso;
Só tive medo. É que ontem eu sonhei e depois já não estavas lá.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Candura, Alvura e Lisura.

(Lembrei-me que não posso escrever sobre ti.
Correria o risco público de pensarem que estou a escrever sobre mim.)


Concluí que tudo acontece por um motivo. Gostava de poder melhorar o mundo e aquilo que me rodeia, mas para já parece-me impossível.
Enquanto não estivermos livres de mentiras e não formos sinceros, sequer, connosco próprios, ninguém nos pode ajudar.
Gostava de saber menos do que sei. Talvez vivesse mais feliz na minha ignorância.
Gostava que me dissesses aquilo que não te quero perguntar. Aprecio, como se pode notar, a sinceridade e pró-actividade.
E por mais que penses que esse elo não existe, somos mais parecidos do que possas imaginar.
Não queria denunciar a minha estratégia. Nem vou. Já abri de mais o meu círculo.
Haverá confiança para alterar isso?