sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Efeito Doppler






Após a minha caminhada vespertina, decidi descansar junto ao lago.
Pousei a mão sobre a relva meio húmida e sentei-me junto à árvore que conta mais histórias que os meus ou os teus olhos.
Pensava nos nossos dias mais cinzentos, enquanto balançava pedrinhas para junto das margens.

Decidi, naquele compasso de espera, que nada mais tinha que esperar.

Toquei na água, enquanto os peixes me observavam inquietos, julgando que estaria ali para os caçar, e lembrei-me de ti e de mim, correndo por entre a vegetação.
Gritos ecoavam na minha cabeça, mas senti que nada do que se teria passado havia sido real.
A dor que sentia não era suficiente para me atirar contra as pegadas que deixaste quando o sol se pôs.
Deixei de te ver.
A escuridão inundou por completo a floresta, no mesmo dia em que decidiste partir.
Persegui-te durante horas; Persegui o cheiro do teu perfume durante horas.
Persegui aquilo que achei que era o teu rasto durante horas.
Persegui nada mais do que uma ilusão.
Os meus braços tremiam; As minhas pernas tremiam. Esqueci-me do momento em que deixei de correr.
Levei as mãos à cabeça e numa última escapatória vi-te, finalmente, a desaparecer.
O rasto terminava junto à entrada da ponte de madeira.
A água já pouco se movimentava.
Decidi que era o momento de deixar partir a sombra que me escapava ao olhar.
Decidi que só permitiria que regressasses ao meu pensamento quando voltasse àquele lugar; Quando fitasse os peixes como eles te fizeram no dia em que o fundo preferiste.
Toquei-te, uma ultima vez.
Observei a água a acalmar-se e voltei costas ao caminho que desejava nunca antes ter conhecido.